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George Davison Winius é um historiador e académico norte-americano, especializado na história da expansão europeia na Ásia do séculos XVI e XVII tendo escrito especialmente sobre a transição do breve predomínio português para o longo domínio holandês obtido e mantido pela Companhia das Índia Orientais.
Na Lenda Negra da Índia Portuguesa Winius analisa o fenómeno da corrupção generalizada entre as mais altas elites portuguesas de Goa que, segundo vários autores da época e contemporâneos, estaria na base do declínio português.
Neste livro, apoiado nas obras de Diogo do Couto e de Francisco Rodrigues da Silveira, Wilnus elenca as diversas práticas a que recorriam os vice-reis e o seus mais chegados colaboradores para enriquecer à custa do erário real. Os relatos destes dois portugueses são corroborados pelas crónicas de diversos viajantes europeus que passaram pela Goa do século XVI e que deixaram livros de memórias.
Uma das formas mais comuns de roubo era o dos soldos velhos, i.e. o não abatimento da folha de remunerações de soldados mortos ou dispensados, embolsando os responsáveis esse dinheiro. Outra forma comum era a da venda ao Estado, por valores exorbitantes, de bens. É dado um exemplo de um vice-rei que vendeu alguns dos seus cavalos à cavalaria por um preço tal que chegaria para equipar um batalhão.
O desvio sistemático de dinheiro esteve na base da falta de investimento militar que levou à secundarização de Portugal no comércio das especiarias entre a Ásia e a Europa e no comércio intra-asiático em favor da Holanda e da Inglaterra.
Em contrapartida com as fortunas amassadas pelos vice-reis e seus acólitos, os soldados que embarcavam de Portugal para a Índia, apesar da origem nobre de todos eles, defrontavam-se com uma situação de penúria tal, era comum terem de dormir nas soleiras das portas e de mendigarem a alimentação, que muitos desertavam imediatamente.
Interessante ainda o facto de, devido ao desvio do dinheiro pelas elites, terem os soldados de garantir o seu próprio equipamento o que se traduzia por armas de qualidade inferior e excessiva diversidade o que nas batalhas contra as tropas disciplinadas e equilibradamente equipadas dos holandeses se traduzia em manifesta inferioridade.
Um livro interessante que nos mostra que a corrupção dos governantes portugueses não é um fenómeno de hoje e que as suas consequências se traduzem sempre por perdas de soberania e declínio económico da generalidade da população.
“Rouba mas faz” frase demagógica de tons populistas pode ter para certos alguma atratividade mas é sem dúvida um logro como nos mostra com clareza a História da Índia portuguesa que em escassas décadas passou de um Império comercial e alcance mundial para uma presença menor no cômputo do comércio asiático.