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"O título deste livro é enganador. À primeira vista, parece apenas uma exortação à Dolce Vita. E é, mas também é bastante mais do que isso. Foi, sobretudo, concebido para nos ajudar a cultivar as sementes da serenidade – fonte das grandes ideias, luz para a descoberta das coisas realmente importantes da vida, motor do verdadeiro prazer de viver – sem sentimentos de culpa:
«Ah! Não fazer nada – e fazê-lo bem.»
Os textos de Véronique Vienne, belissimamente ilustrados com fotografias a sépia de Erica Lennard, celebram a arte de procrastinar (adiar sistematicamente), de respirar, de meditar, da ociosidade, de bocejar, de dormir a sesta, de tomar banho, de saborear, de escutar e de esperar. E a verdade é esta: apesar da nossa larga experiência no desempenho destas actividades, não sabemos ainda como vivê-las em toda a sua deliciosa intensidade.
O ócio é nosso amigo. É altura de fazermos as pazes com ele."
EXCERTOS
CAPÍTULO 6
A arte de dormir a sesta
Se tem muito que fazer, faça uma sesta - apenas uma sesta de dez minutos. Por mais ridículo que possa parecer, deixar-se cair da beira da consciência é frequentemente a melhor maneira de rapinar o tempo extra de que precisa para cumprir um prazo limite.
Refugiar-se num leve cobertor de sono no meio de um dia atarefado não é muito diferente de escavar um túnel de fuga, um que passe por cima de horários de trabalho impossíveis, agendas sobrepostas, e dores de cabeça programadas, e que lhe permite submergir alguns minutos depois com um olhar fresco para a vida.
John F. Kennedy, Winston Churchill, Thomas Edison, Napoleão Bonaparte, e Leonardo Da Vinci praticavam a arte de passar pelas brasas a meio da tarde. Tal como eles, você pode descobrir que dormitar nas costas das pessoas traz-lhe vantagens.
A pesquisa do sono demonstra que se passa um complexo processo fisiológico, sob a superfície de uma soneca inocente. O que de fora parece inércia é, de facto, um estado interno activo a fervilhar de neurónios a disparar intensamente.
Enquanto dormimos, sofisticadas sequências de ondas cerebrais transformam os nossos corpos inertes em estações de energia que produzem inteligência, atenção e discernimento.
Existem devastadoras provas científicas em como a falta de sono acarreta uma grave deterioração da consciência: fadiga, incapacidade de concentração, alucinações visuais e do tacto.
A vontade de se aninhar ao princípio da tarde é um sinal de alerta de que lhe está a faltar bom senso ou discernimento. É esta a altura do dia em que aumentam os acidentes de trânsito ou de produção - quando as pessoas adormecem ao volante ou no painel de comandos fabris.
É bastante melhor enroscar-se do que provocar um desastre. De barriga para cima, pode entrar num processo de produção enquanto fabrica os blocos de construção para o seu próximo estado de vigília.
Render-se ao descanso faz mais do que apenas restaurar a capacidade de funcionar eficazmente - de facto, gera aquele estado mental, claro e transparente, a que chamamos vigília.