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"O silêncio é a cor das ocorrências da vida: pode ser ligeiro, denso, cinzento, alegre, venerável, aéreo, triste, desesperado, feliz. Colora-se de todas as infinitas tonalidades das nossas vidas... Se o escutarmos, o silêncio fala-nos e elucida-nos constantemente acerca do estado dos lugares e dos seres, acerca da textura e da qualidade das situações que enfrentamos. É o nosso companheiro íntimo, o âmago permanente do qual tudo se liberta.
Esta obra é uma meditação sobre esse elemento essencial e desprezado das nossas existências. Num mundo cada vez mais ruidoso, o valor do silêncio tem de ser redescoberto. Talvez o tenhamos esquecido, mas nós somos seres portadores de toda a sabedoria imemorial do silêncio.
Eis, expressa através de palavras, uma tentativa de viagem pelo não-dito. Que nada quer provar, mas apenas... sugerir."
EXCERTOS
Origens: a palavra "silêncio" aparece na nossa língua no século XII, mais exactamente em 1190. Descende do latim silentium, e é portanto a sua tradução exacta. O francês arcaico empregava mesmo, à semelhança do latim silere, o verbo siler, que significava: calar-se. Hoje em dia encontramos, relacionado com ele, um adjectivo: silencioso, silenciosa; um advérbio: silenciosamente; e um curioso nome vindo também da antiguidade romana: silenciário, palavra que designa o oficial que fazia manter o silêncio entre os escravos e, por acréscimo, os religiosos que mantêm um longo silêncio, como os Trapistas e todos aqueles que se mantêm em silêncio durante longos períodos.
Silêncio: o primeiro sentido desta palavra, que tem como particularidade ser o único substantivo masculino que acaba em ence, em francês, é o estado de se calar, de permanecer mudo. A partir deste primeiro significado, foram inventados outros usos para a palavra. O Littré enumera nada menos que treze grupos, que se dividem em múltiplos subgrupos; definindo primeiro que tudo o estado de uma pessoa que se abstém de falar. "A rainha de Inglaterra dizia que os príncipes deviam manter o mesmo silêncio que os confessores e ter igual discrição", escreve Bossuet, que descreve três tipos: o silêncio de zelo, que deve ser usado para a concentração numa tarefa; o silêncio prudente, usado nas conversas; e o silêncio paciente, aplicado nas contradições. Pascal, por outro lado, privilegiava o silêncio perante Deus: "Devemos guardar silêncio tanto quanto pudermos, e alimentarmo-nos apenas de Deus, que sabemos ser a verdade", escreve ele nos Pensamentos, apesar de se contradizer algumas linhas à frente: "O silêncio é a maior perseguição, jamais os santos se calaram", o que é, aliás, falso.