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PROGRAMA DE VIAGEM
Este punhado de seres, transtornados por um sangue deletério, unidos por um anseio de cárcere e de fuga, poderiam ter sido colocados, na verdade, em qualquer lugar e em qualquer tempo da Terra. Determinaram os deuses, porém, ao riscarem, com a lâmina das unhas e com o fio do punhal, o destino de Medeia e de Hamlet, que numa cidade brumosa estendessem o fado, pelas vésperas de deixar o homem a sua pegada na Lua. Desperdícios da mecânica dos engenhos do seu invento, iludidos pela expectativa de um horizonte que em perpétuo se lhes adia, apostariam na exasperação dos sentidos, como pretexto de se eximirem ao espaço que o voo lhes confinou. E rasgariam os fatos, e frequentariam os paraísos alcançáveis, até perceberem esta coisa simplicíssima, e quase tosca, que se segue. Um trapezista azul não desiste de voar, tão real como um relâmpago, atravessando a cena de quem tiver olhos de ver. E, conforme ao que sucede, em cada história contada, onde heróis e classes se confrontam, também a luta, aqui, não se saldará na previsível vitória, mas na consciência da sua própria repetição. Como em Sísifo, ainda?
Como quem acredita nos limites da liberdade, e na liberdade dos limites.
Apenas isto, se quiserem, e boa noite!