Uma Visita a Bosch

Jheronimus van Aeken  não gosta de ser interrompido pela manhã. Que o diga Claes, confrade do pintor na Irmandade de Nossa Senhora, despachado com palavras nada gentis da última vez que se apresentou em casa deste mal rompera a aurora; ou mesmo Aleid, conhecedora do génio do marido em todos os sentidos, que aprendeu a chamá-lo apenas quando, ao almoço, o aguarda uma iguaria irrecusável, temperada com as raras especiarias dos novos continentes. Mas eis que, numa manhã de neblina, quando Bosch - assim assinava as suas obras - se debate com as sequelas da insónia e uma inexplicável sensação de medo, três pancadas na porta interrompem as suas reflexões. Que visitante se atreve a incomodar o mestre em horário tão inoportuno?