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Embora o famoso mote proclame que «todo o mundo é composto de mudança», as explicações para a diversidade dos seres vivos actuais só muito recentemente incorporaram essa componente evolutiva. Este paradoxo é fácil de compreender se admitirmos que, de facto, não se observava o nascimento de espécies a partir das existentes, verificando-se ainda que estas se não misturavam, não produzindo, portanto, novas combinações estáveis. O fixismo (ou o criacionismo) estaria, assim, mais de acordo com as observações empíricas do que a interpretação moderna, evolucionista. Só o advento da genética como disciplina científica permitiu que aquela discussão se deslocasse do movediço terreno das opiniões para contextos experimentais mais sólidos. No entanto, quase 150 anos depois da publicação do trabalho de Mendel, a evolução continua a ser objecto de acesa discussão. Na verdade, embora aceite como facto evidente (pelo menos pela comunidade científica), continua a ser debatido um «mecanismo» explicativo. O autor da presente obra pretende demonstrar que essa demanda é um remanescente vitalista das pesquisas das essências e que em particular a «selecção natural» é o último estertor desta atitude «explicativa» pré-científica.
António Amorim nasceu no Porto em 1952. É actualmente professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e investigador no IPATIMUP na área da genética (pura e aplicada, em particular genética humana).