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Amor Terapêutico
de Eduardo Brito Aranha
Edição/reimpressão: 2009
Páginas: 128
Editor: Padrões Culturais
Coleção: Paixões Mundanas
Sinopse
Inspirado em vivências de zonas urbanas e suburbanas, onde para além da profissão de médico, o desempenho leva a outras funções, como psicólogo, assistente social, confessor, juiz, pedagogo, irmão e muitas das vezes, pai, Eduardo Aranha, mestre na arte de (re)criar personagens singulares, transforma histórias quotidianas em contos excepcionalmente hilariantes assentes num estilo mordaz e numa linguagem expressivamente visual.
Excerto
«Especado, de copo na mão, a ver os outros na marmelada com as raparigas, ali ficava o Artur, a tentar sentir-se pessoa. Uma vez uma, bem jeitosa por sinal, devia ter tido pena de mim, porque andava a estudar para assistente social, veio buscar-me para dançar, talvez para perceber melhor os pobres de afecto, era um slow, agarrou-me e ela apertava tanto, que eu até lhe sentia os peitos colados a mim e o cheiro do cabelo dela no meu nariz. […] Tirando a experiência com essa, apesar de tudo, gratificante mas única, nunca mais tive na minha vida nada de jeito. Só dava com estafermos, gordas, pirosas, bigodudas, pudiquinhas, hipermoralistas, todas umas freirecas saídas de orfanatos de terceira classe. Comecei a convencer-me que era só isso a que teria direito. O meu pai quando via alguém muito feio na rua, costumava dizer: Quando nasce um sapo, nasce sempre uma sapa. Pronto, seria então uma sapa que eu tinha de procurar. Quando me olhava ao espelho, humilhantemente concluía: Artur, lá terás de ir ao pântano procurar a tua sapa. Limitei-me miseravelmente a casar com um camafeu, que nem escolhi, ela é que me escolheu. Conheci-a quando uma vez fui ter com o meu irmão à Faculdade de Medicina, ao bar da sala de alunos e, já que ele não gostava delas, ao menos que ficassem para mim. Pior que aquela que me calhou como esposa, só deveria haver dentro de algum frasco na Anatomia Patológica. É que nem para um quadro de Bruegel ela servia de modelo. Nem cubista. Assim não se estragaram duas casas com a fealdade, iam dando a entender os meus irmãos em constantes referências hipócritas ao namoro. Além disso, eu nunca correria o perigo de ser atraiçoado, ninguém a cobiçaria, nem mesmo um invisual que esses, com o tacto, entendem tudo.»
Excelente estado de conservação.
ref. m5