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NUMA BELA MANHÃ DE DOMINGO, À HORA
em que as famílias costumavam sair
para o pastoreio, deparo comigo sentado num café
a ler, com grande regalo, umas patranhas
num livro de um obscuro senhor que muito
admiro. Leio que «filhos não te são nada, carne
da tua carne são os poemas». E até começo por ter
simpatia pelo erro de concordância que não há
e deveria haver. Mas logo percebo que verdadeiramente é
crasso o erro escrito, pois posso com toda a intenção juntar
o inverno ao inferno, como faz ele, acrescentar
da minha lavra algo de muito interno,
uns fiapos da alma, por exemplo,
já que tem estado tão alheada, e nada mais
obtenho do que resultado zero, nem filho
nem poema, de novo eu próprio
sou apenas um homem só à mesa de um café
que desata a gritar puta que o pariu.