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Pode um amor devastador sobreviver? E o mais importante: pode alguém sobreviver a um amor devastador? As questões levantadas por Alice Hoffman em seu novo romance, Aqui na Terra , nada têm de simples. Mas a autora consegue entreter o leitor com sua prosa delicada e, ao mesmo tempo, fazê-lo pensar sobre as múltiplas faces do mais almejado e amaldiçoado dos sentimentos. March Murray é uma designer de jóias bem casada. Tem uma filha de 16 anos e vive na Califórnia, EUA, há 19. Ela nunca teve intenção de voltar a Fox Hill, sua provinciana cidadezinha natal no estado de Massachusetts, até receber a notícia de que Judith Dale, a velha empregada da família, acaba de morrer. Então, ela se despede de Richard, seu marido, e viaja com Gwen, sua filha aborrecida, a fim de comparecer ao funeral da estimada criada. Só que, para March, o problema de Fox Hill não é seu provincianismo, mas o fato de ser o lar de Hollis, um grande amor deixado para trás. Ela ainda era bem garota quando seu pai decidiu dar abrigo a Hollis, rapaz pobre e problemático que nunca teve um lar de verdade. Com o tempo, ela se apaixonou por ele, e ambos viveram um relacionamento intenso e secreto durante alguns anos. Alan, irmão mais velho de March, nunca tolerou a presença do estranho, tratado como membro da família, e sempre fez tudo para prejudicá-lo, sem dosar sua crueldade. Assim que seu pai morreu, sua primeira providência foi proibir Hollis de circular pela casa e cobrar tudo o que havia sido gasto com ele desde sua chegada à cidade. Foi duro para Hollis, mas mais difícil que a humilhação foi perder March depois de uma sucessão de desentendimentos. Agora a realidade é outra. Alan tornou-se um alcoólatra incurável, uma criatura patética que caiu na miséria e vive numa casa abandonada no meio do pântano, praticamente sem contato com ser humano algum. Ele é chamado de “O Covarde” e vive em constante embriaguez, sem a menor dignidade. Chegou a se casar anos antes, mas sua mulher morreu num incêndio provocado por ele, bêbado e inconsciente. Incapaz de cuidar de Hank, seu único filho, permitiu que Hollis o pegasse para criar. A situação realmente se invertera. Hollis, também viúvo mas sem herdeiros, agora é o homem mais rico da cidade e um dos mais poderosos dos EUA. Tudo que pertencia a Alan agora é dele. Quando March volta a Fox Hill, várias histórias de amor vêm à tona, novas e antigas. São todas belas, mas tristes, e revelam diferentes facetas desse sentimento. March e Hollis não resistem à atração mútua e se entregam um ao outro. Seria um casal perfeito, não fosse ela casada e ele, extremamente possessivo e sem princípios. Richard, o marido traído que está longe, sabia que March não resistiria, mas não pode deixar de amá-la. Já Gwen, a filha adolescente do casal em crise, embora seja a típica garota mal-humorada e independente da cidade grande, acostumada a transar com quem mal conhece, parece se tornar uma pessoa muito melhor em Fox Hill e apaixona-se por Hank, com quem nem pensa em fazer sexo, decidida a viver um amor puro. O jovem também a ama, e nela encontra o carinho que nunca recebeu de ninguém. Várias outras versões do amor são apresentadas. Alan ama Hank, seu filho, mas é incapaz de escapar de seu ciclo de autodestruição. Hank também o ama, mas não pode perdoá-lo por tê-lo obrigado a depender da caridade alheia. Bill Justice, o juiz da cidade, embora seja casado, teve um longo e duradouro caso extraconjugal com a falecida Judith Dale e agora sofre terrivelmente sua perda. Louise, sua mulher, sabe de tudo e prefere se fazer de desentendida e chorar em silêncio a ter de explicar a todos o que o amor é capaz de suportar. No desfecho, cada um tem o final que lhe é possível, não necessariamente feliz ou triste, mas coerente. E fica a certeza de que ninguém pode julgar as ações e os sentimentos dos outros quando há amor envolvido. Quem achar que o relacionamento de March Murray e Hollis tem alguma semelhança com a história de Catherine Earnshaw e Heathcliff, personagens de O morro dos ventos uivantes , clássico de Emily Brontë escrito em 1847, não estará enganado. Alice Hoffman é antiga fã do famoso romance e se propôs a atualizar e ampliar seus temas em Aqui na Terra . Com habilidade, a autora fala tanto das maravilhas do amor quanto da destruição que ele pode causar.