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«Quem nos disse», pergunta Duarte Scott, «que as emoções importantes não são as que sente o corpo sem que se intrometa o pensamento?». Em Exposição, livro que muito expõe e muito esconde, o pensamento intromete-se no corpo, e o inverso. São poemas da inteligência e da sensibilidade, sumamente auto-conscientes, versos limados, quase-rimas, cesuras, um discurso poético em plena maturidade dos seus meios expressivos, seja o poema elíptico, vindo de algum hermetismo de 1960; a alegoria erótica, à D.H. Lawrence; ou os «prosímetros», combinações de prosa e verso tão antigas quanto a própria poesia, e usadas, entre os modernos, por William Carlos Williams (os poemas em inglês, como as referências italianas, dão conta do percurso cosmopolita do autor).
Scott cultiva o sentido de forma, afirma a centralidade dos sentidos, e medita sobre o sentido das coisas, do engate ao luto. Anunciadas «sob o signo do sino», quer dizer, do sino da aldeia, estas grandes alegrias e grandes tristezas repercutem-se também em ambientes urbanos, incluindo um S. Sebastião num museu, lugar identitário bem conhecido, mas que aqui termina, ironicamente, com a reprodução triunfando sobre o original. — Pedro Mexia