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Flor Bella era uma mulher simples, afectuosa, despida de artifícios e manifestava por vezes a graciosidade fácil das crianças, como também não se prendia aos sortilégios de aduladores, nem se enredava com banalidades.
Como tal, não agradava a todos, como nem todos lhe agradavam. Sabemos bem que onde estiver o talento, estará sempre, associado, a inveja, a calúnia, os descontentes e os ignorados… Porém, em vida sofreu ofensas mas nunca foi vingativa.
Em parte, a sociedade da época, pode sentir-se responsável pelos desgostos de Flor Bella que, por culpa nossa, se tornou a pouco e pouco na mulher esquiva, isolada e dolorida, perdendo a confiança na vida e em todos nós.
Alguns de nós sabem que não é a morte que nos liberta dos desgostos, nem das ansiedades, nem dos sofrimentos, mas sim a própria vida, se nela encontramos o apoio moral que tantas vezes faltou a Flor Bella, ainda que desesperadamente pedisse a Deus a sua gota de água.
A pior de todas as mortes é a que sofremos, morrendo em cada hora que passa, em cada instante que nos traz a certeza de sermos retalhados em ofensas, em injustiças e, mesmo contra a nossa vontade, temos de continuar a viver.
Porém, é no desespero da sua inspiração que procura refugiar-se e em cada verso que escreve, soa assim, dentro de si a primeira badalada chamando-a à vida.
Pressentindo a proximidade da morte, agarrava-se à vida e compunha apressadamente na sua lira, mais prodigiosa que nunca, os mais belos sonetos que enviava a Guido Batelli, pedindo-lhe quase aflitivamente que os entregasse ao editor porque temia morrer antes de ver publicado o seu livro «Charneca em Flor», do qual foi extraído o presente livro, e com ele veio, postumamente, o sucesso, o seu talento e a glória do seu nome.