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No prólogo ao seu livro mais recente – Os Conjurados – datado de 1985, Jorge Luis Borges escreve: «Ninguém pode estranhar que o primeiro dos elementos, o fogo, não abunde no livro de um homem de oitenta e muitos anos. Uma rainha, na hora da sua morte, diz que é fogo e ar; eu costumo sentir que sou terra, cansada terra. Continuo, no entanto, a escrever. Que outra sina me resta, que outra formosa sina me resta? A felicidade de escrever não se mede pelas virtudes ou fraquezas. Toda a obra humana é precária, afirma Carlyle, mas não o é a sua feitura.
Não professo qualquer estética. Cada obra confia ao seu escritor a forma que procura: o verso, a prosa, o estilo barroco ou chão. As teorias podem ser admissíveis estímulos (recordemos Whitman), mas contudo podem engendrar monstros ou meras peças de museu. Lembremos o monólogo interior de Joyce ou o terrivelmente incómodo Polifemo.
Com o correr dos anos, observei que a beleza, tal como a felicidade, é frequente. Não se passa um dia em que não estejamos, um instante, no paraíso. Não há poeta por medíocre que seja, que não tenha escrito o melhor verso da literatura, mas também os mais infelizes. A beleza não é privilégio de uns quantos homens ilustres. Seria muito estranho que este livro, que abarca umas quarenta composições, não encerrasse uma única linha secreta, digna de te acompanhar até ao fim.»