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«Caibo mal apenas na pequena caixa [dos políticos] em que me metem. Durante quase toda a minha vida escrevi (e falei) sobre assuntos que se consideram fora da política. Não sei pesar bem as quantidades e muito menos as qualidades, mas é um número substancial, desde crítica de arte, uma parceria com Óscar Lopes no suplemento literário do Comércio do Porto, escritos diversos no Diário de Lisboa, no &etc e noutros jornais esquecidos, até à participação no primeiro happening da Sociedade Nacional de Belas-Artes, a uma espécie de sessão de vanguarda com o Jorge Lima Barreto e o Ângelo de Sousa, a traduções de Emily Dickinson, René Char, Henri Michaux, Bertolt Brecht, a ensaios sobre Rilke e Bashô, a discretas aulas de cosmologia e filosofia das ciências em várias escolas, a conversas públicas sobre arte, como uma sobre o homem da capa deste livro, John Frederick Peto (há muitos anos em Serralves), ou sobre Giorgio Morandi (algures no Bairro Alto).
Significa esta enumeração que desejo algum reconhecimento intelectual por essa obra? Não há obra nenhuma, apenas fragmentos. E aqui têm a resposta tão arrogante como muita outra coisa: sei demais para ter qualquer ilusão sobre essa fama. Eu próprio não dou muito valor a tudo isto, porque já vi muita coisa, e já li muita coisa.
E sou, digamos assim, especialista do efémero.»