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Não fosse Jerome K. Jerome (1859-1927) um dos maiores vultos do humor inglês e tudo o que haveria a dizer acerca de Três Homens Num Barco caberia na genérica etiqueta «Livro de Bordo»: estamos afinal (são estas as palavras do autor) diante o registo «fiel» das peripécias vividas por George, Harris e J. (já para não falar do cão!) ao longo de uma passeata pelas águas do imponente Tamisa. As coisas complicam-se quando o suposto relato se revela a súmula de episódios tanto mais hilariantes quanto se pretender compará-los a uma simples viagem de barco. Publicado pela primeira vez em 1889, Três Homens Num Barco foi entusiasticamente recebido na Inglaterra e nos Estados Unidos, sagrando Jerome K. Jerome mestre de gerações de profissionais da comédia. Lição de refinamento britânico com um século de idade? Apenas a prova de que hoje, como nos itinerários burgueses da Inglaterra do século XIX, o humor e a ironia são bens ao serviço de alguns males bem humanos. Curiosamente, não foi pensado como texto humorístico, muito pelo contrário: o objectivo era fazer uma descrição histórica e topográfica do Tamisa, o mais aristocrático dos rios ingleses, que Jerome adorava. Mas a graça e a frivolidade foram-se infiltrando e as passagens divertidas alcançaram tanto sucesso que, sempre que «os bocados históricos» apareciam, eram cortados pelo editor de Home Chimes, que estava a publicar o texto em folhetim. Os três protagonistas eram, há que dizê-lo, bastante genuínos: Harris era Carl Hentschel, um polaco que muita gente confundia com um alemão; George era George Wingrave; e o próprio Jerome completa o trio que costumava apanhar o comboio em Richmond para ir passar os domingos no rio. Montmorency, o cão, também existiu, e o episódio com a chaleira baseia-se num incidente real - tal como as explorações dos três homens se baseiam nas experiências de Jerome e dos seus dois amigos.