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A poesia destes pequenos textos de Jules Renard atraiu tanto Maurice Ravel, que ele compôs uma música para as suas Histórias Naturais. Quem ler esta obra constatará por que ela impressionou tanto o famoso músico. O olhar que Renard lança ao mundo natural é único. Eventos do cotidiano animal tornam-se nestas páginas verdadeiros quadros poéticos. A economia de palavras, as metáforas sugestivas constroem imagens extraordinárias. O retrato completo de um animal e seu cotidiano pode vir sugerido em apenas um período. Veja, por exemplo, este impressionante texto sobre a formiga: "A formiga não perde tempo discutindo e se apressa em juntar-se às irmãs que seguem todas o mesmo caminho, semelhantes a pérolas negras que se põem num fio."
Também a borboleta não precisa mais do que um período simples para surgir numa bela poesia, que nos lembra a brevidade vigorosa de um haicai: "Essa carta doce dobrada em dois procura o endereço de uma flor."
Já a morte de um animal pode merecer uma ou duas páginas. Esse é o caso de "Dedeche morreu". O foco dirige-se para o drama da morte que se desenrola, o sofrimento do animal e dos humanos que assistem a sua agonia e suas horas finais. Em outro passo, um protagonista humano dialoga com o porco. O tema dessa interessante conversa recai sobre a caluniosa pecha de "porco" de que esse animal é vítima. Outras interessantes historinhas se desenvolvem. Uma a uma, curtas ou brevíssimas que sejam, os animais são sempre dignos do olhar amoroso do escritor. Verdadeiro cronista do mundo natural, o animal em Jules Renard é um ente humanizado. De modo diferente dos fabulistas La Fontaine, Esopo e outros, a humanização dos animais nesta obra não é uma alegoria com fins morais. É entre os humanos que os animais se humanizam, a ponto de merecerem as celebrações que o homem instituiu para os momentos sublimes ou trágicos da vida. É assim em a "A Morte de Moreninha", para quem o narrador manda que se dobrem os sinos por sua morte.