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«Falar de um autor estrangeiro de nome célebre, mas cuja obra apenas se conhece através de traduções muitas vezes imperfeitas é como falar de cores a um cego de nascença. Um livro sobre Helen Keller, muda e cega, conta, entre outras coisas, como a sua preceptora lhe explicava o branco e o negro com a ajuda de um piano: no mais alto do teclado, em branco; o negro ocultava-se nos sons mais profundos … Para que a obra de Tchekhov, para que o homem Tchekhov atinjam a consciência de um público não-russo ser-me-á necessário encontrar uma equivalência semelhante à dos sons-cores. Falar de um autor estrangeiro morto há cinquenta anos, quando é já tão difícil falar de um vivo para aqueles que conhecem a sua língua. Basta ler as biografias dos nossos contemporâneos, daqueles que sucedeu termos conhecido, para nos apercebermos do que a fantasia artística, as falsas informações e a má fé podem fazer de um homem e da sua vida. Toda a biografia, desde que saia do distrito domínio dos fatos materiais, é necessariamente romanceada. Para imaginar Anton Tchekhov vivo, imaginá-lo para vos, mais não posso que tentar aproximar a sua obra dos elementos biográficos que possuímos. E esse o aspecto da sua vida que nos interessa, a nos, seus leitores; quanto à cor dos olhos… se eram castanhos, azuis ou cinzentos, como sabê-lo? As três cores encontram-se nas recordações dos seus contemporâneos. Tudo está sujeito a canção, salvo a obra, que permanece e testemunha pelo seu criador.»