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SINOPSE
A exemplo dos relatos de aventura do século XIX e do início do século XX — fossem eles jornalísticos, como o da célebre expedição de Stanley à procura de Livingstone, no coração da África, ou ficcionais, como o da busca de Marlow pelo misterioso Kurtz, n’O coração das trevas, de Joseph Conrad —, neste romance um homem também precisa de encontrar outro: um diplomata brasileiro recém-chegado à China é enviado, contra a sua vontade, aos confins da Mongólia em busca de um jovem fotógrafo desaparecido um ano antes nos montes Altai.
"Mongólia" é ao mesmo tempo relato de viagem e ficção, numa espécie de diálogo que se estabelece entre o diário deixado pelo desaparecido e aquele que escreve o diplomata encarregado de encontrá-lo, como se só pudessem avançar sobre as próprias palavras. Relatam o contacto com os nómadas no deserto de Gobi e nas estepes mongóis; a vida dos tsaatan, criadores de renas, na fronteira com a Rússia, e a dos criadores de camelos no deserto de Sharga; o encontro com um cantor difónico, com um improvável monge budista e com um falcoeiro cazaque. Mostram um povo que exercita o misticismo como quem descobre a liberdade depois de setenta anos sob o jugo de uma ditadura comunista. Um país em que a memória se perdeu pelo uso da força, e a imaginação, antes cerceada, toma agora o lugar da memória, confundindo-se com as condições mais extremas da realidade.
Nos seus diários, o desaparecido e o diplomata revelam a dificuldade de se relacionar com o que não conhecem. Expõem os seus preconceitos e limites, enquanto um segue à procura do outro, ora desconfiados ora iludidos, condenados a ver uma realidade que deve muito à sua própria imaginação e desejos, assombrados por histórias que parecem auto-reproduzir-se e cuja veracidade já não podem provar a não ser com a própria perdição. Histórias que os levam a embrenhar-se num mundo que não compreendem, um labirinto sem paredes. E, conforme um se aproxima do outro, nesse confronto entre Ocidente e Oriente, também a narrativa parece encaminhar-se para uma integração impossível entre modos diferentes de ser e pensar, num esforço para resgatar o que foi separado na origem, o que se perdeu e só poderá ser encontrado no terreno da ficção.