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“Engana-se quem pensa que o significado mais profundo das palavras neste livro esteja na parte negra da tinta. A página conta-se quase como som. E cheiro. E o gosto da rua. E o toque das luvas. E a cerveja logo ali. E segunda. Batendo perna. Gargalhando alto. Inventando nomes de drag. Derretendo satélites. Penso que Cris Lisbôa escolhe suas vogais e consoantes para despistar o silêncio que existe entre uma palavra e outra. Ali sim, no inconsciente do branco, é que se dá toda sua voz. É onde o invisível inexplicável desabrocha inteiro no peito. É onde mora cada desejo, cada beijo que deu errado, cada gota de chuva na janela do taxi de madrugada, cada canção revelada no rádio. A parte negra da tinta vai fazer você sorrir, lembrar-se de si mesmo, do brilho do neon nos olhos de alguém. Vai até anotar no teu caderninho, que eu sei. Mas é o silêncio do branco que vai te fazer ler este livro 111 vezes. Aquele mesmo que eu te disse, porque cada vez é diferente. Cada vez é mais profundo. O sorriso da Monalisa dessa água toda.
P.S.: leia em voz alta.”
Filipe Catto