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Filho de um traidor redentor e de uma princesa mandada desencafuar da funda Alemanha: poderia assim resumir-se D. João V? Não: querendo ver além da pompa, emerge um homem que superou e consumiu todos os limites. Freirático, arquitecto, fabricador de cópias; propagandista e beato, exponenciado por um complexo de Midas? Príncipe renascentista tardio, percursor iluminista? Foi tudo ou nada disto o filho orgulhoso de um homem austero forçado a ser rei e de uma rainha tão piedosa que cedo foi roubada à terra?
Nenhum outro estava mais preparado para ser rei, juravam os franceses a quem não fez vida fácil. Nenhum outro desviou tão preciosas torrentes para erguer Roma em Lisboa, ou para fazer escadas para o céu em igrejas auríferas. Refundador ou exauridor-mor? Quem foi este homem que, no dizer de Oliveira Martins, «construiu uma basílica maior que o reino»? Nascido para o trono, quem era antes de ser rei? Como era o seu quotidiano? O que amou, quem amou?
Homem desmedidamente reduzido por amplificação: pelo escândalo das amantes freiras, pelos excessos barrocos; eclipsando el-rei rigoroso que da sua secretária, entre «sarna de papéis», divisava «infinito que fazer».
Ancorando-se nas cartas pessoais do rei, na correspondência diplomática lusa, francesa e papal, em jornais de época, em narrativas de viajantes - algumas nunca trabalhadas - Pedro Sena-Lino constrói uma biografia profundamente reveladora.