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Trata-se do primeiro romance de Marcelo Mirisola, e apresenta-se, desde logo, sem vestígios de estrutura narrativa convencional. "O Azul do Filho Morto" percorre o lado obscuro da vida da classe média (pais, avós, empregadas, vizinhos, namoradas, prostitutas…), elaborando um retrato desconcertante da geração dos anos 1970/80.
«Uma vez vovó que sofria — do cocuruto — de maldade, peruagem e de esquecimentos atrozes, acusou uma “negrinha desgraçada” de roubar suas jóias. Eu me lembro deste episódio para lembrar da minha mãe e dos ovos que, de três em três horas, eu, débil mental (“isso”), garoto estranho que vivia olhando pra baixo, fui obrigado a engolir. Eu quero dizer o seguinte: se eu não comesse os malditos ovos as cabeças explodiriam contra as paredes. Ou melhor, a autoridade da minha mãe começava na minha avó e terminava na parede. Educação à Zeloni. Um negócio mais honesto, menos cínico, mais apaixonado e verossímil do que os cubinhos “lúdicos” de Freinet, Piaget & Cia. Ltda. (“exercício lúdico” é a puta que pariu, em qualquer época e circunstância — diga-se de passagem). Eu tive o Zeloni, a família Trapo sem pingo de humor. E tive que “curtir” o desbunde dos 70’s trancado numa “Escola Experimental” para filhos de nazistas endinheirados. As coisas não se encaixavam, nem nos cubinhos nem na minha cabeça, nem fudendo.»