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É na manhã que renasce o passado.
Leu dentro de si, com leitura audível, táctil, quente, viva, e ao redor da imaginação vibrou o som das palavras carregadas de sentido e cor. Aquilo soava-lhe a música, não propriamente a harmonias descritivas, mas contradições do sentimento, inexprimíveis pela palavra vulgar. Quando assim leu, cheirava a cal acabado há de cair às pistas em cima do chão atapetado de caruma, pingando aqui e ali, por entre flores de laranjeira, alastrando pela verdura da folha e logo se escutou na voz dos astros: a natureza é inteligente mas não tem consciência. Compreendeu que o pensamento se abeirava da eternidade, de um enormíssimo tempo, tão dilatado como os espaços infinitos, assaltado por uma verdade evidente, em todo o caso tão deserta, silenciosa e fugitiva, tão esquiva e ausente. Nada, ou quase nada disto acrescentava a verdade dos homens, à sua verdade.