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Sayuri tinha um olhar invulgarmente belo, de um cinzento translúcido, aquático, a reflectir numa miríade de cristais límpidos o brilho prismático e incandescente do universo perfeito e atroz sobre o qual repousava. Era uma transparência súbita, inesperada, a contrastar violentamente com a estranha opacidade branca da máscara onde sobressaíam uns lábios exageradamente vermelhos. E se os olhos ainda reflectiam Chiyo, a menina de nove anos, filha de pescadores, de uma cidade remota junto ao mar, a máscara inquietantemente delicada, o penteado ostensivo, a sumptuosidade dos quimonos de brocados, ricamente ornamentados, pertenciam à mulher em que ela se tinha tornado, Sayuri, uma das mais célebres gueixas do Japão dos anos 1930.
É este mundo anómalo, secreto e decadente, construído sobre cenários de papel de arroz - e que parece ser a manifestação da própria fantasia erótica masculina - que Golden evoca com uma autenticidade notável e um lirismo requintadamente raro. Um romance sobre o desejo e a natureza indomável do espírito humano; desafiador, cativante pela pureza da prosa, pela prodigalidade das nuances, das atmosferas, das imagens esculpidas com a precisão e a subtileza da arte do bonsai.
Memórias de Uma Gueixa, romance de estreia de Arthur Golden, é um fenómeno literário. Publicado em mais de 40 países, as vendas ultrapassaram já os 7 milhões de exemplares. A adaptação para cinema venceu 29 prémios, entre eles três Óscares e um Globo de Ouro.