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"As portas do vagão abriram-se pela primeira vez em muitos dias e a luz do dia brilhou sobre nós. Agarrei bem a mão da minha irmã gémea quando nos empurraram para a plataforma.
- Auschwitz? É Auschwitz? Que sitio é este?
- Estamos na Alemanha - foi a resposta.
Na verdade, estávamos na Polónia, mas os Alemães tinham invadido a Polónia. Era na Polónia alemã que se situavam todos os campos de extermínio.
Os cães rosnavam e ladravam. As pessoas do vagão começaram a chorar, a berrar, a gritar todas ao mesmo tempo; todos procuravam os seus familiares á medida que eram afastados uns dos outros. Separavam homens de mulheres, filhos de pais.
Um guarda qua ia a passar a correr parou bruscamente à nossa frente. Olhou para Miriam e para mim nas nossas roupas a condizer: "Gémeas! Gémeas!", exclamou. Sem dizer uma palavra, agarrou em nós e separou-nos da nossa mãe. Miriam e eu gritámos e chorámos, suplicámos, as nossas vozes perdidas entre os caos, o barulho e o desespero, tentando chegar á nossa mãe, que, por sua vez, tentava seguir-nos, de braços estendidos, com outro guarda a retenção-la.
Miriam e eu tínhamos sido escolhidas. De repente, estávamos sozinhas. Tínhamos apenas dez anos. E nunca mais voltámos a ver o nosso pai e a nossa mãe. "