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Mais interessante é o caso em que sabemos ter à nossa frente um espelho deformante, como sucede nos parques de diversões. A nossa atitude torna-se então dúplice: por um lado divertimo-nos, ou seja, gozamos as características alucinatórias do canal.
Decidimos então aceitar (ludicamente) ter três olhos, ou uma grande pança, ou as pernas curtíssimas, tal como se aceita uma fábula. Na realidade, colocamo-nos numa espécie de férias pragmáticas: aceitamos que os espelhos, que por regra devem dizer a verdade, não a digam. Mas a nossa suspensão da incredulidade não se refere tanto à imagem, quanto à virtude da prótese deformante.
O jogo é complexo: por um lado comporto-me como se me encontrasse diante de um espelho plano, que diz a verdade e acho que ele me reenvia uma imagem “irreal” (daquilo que eu não sou). Se tomo a imagem por boa, ajudo por assim dizer o espelho a mentir. O prazer que experimento neste jogo não é da ordem estritamente semiótica, é de ordem estética.
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«Este é mais um livro de recolha de escritos de variado efeito e precedência: "ensaios de estética, interpretações de fenómenos de cultura popular, leituras críticas de textos, escritos filosóficos e semióticos", que oscilam entre o rigor académico e a desenvoltura de uma imediatez jornalística, entre o riso e o sério e sem complexos de se afeiçoar a ambos.»
O Jornal
De resto, em bom estado de conservação.