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Este é um livro sobre Bach, assente em catorze tentativas de aproximação à sua música. Uma carta de Anna Magdalena, uma cena de montagem de um filme, as conversas de técnicos de som em Nova Iorque, os pensamentos de Etty a caminho do campo de concentração, o silêncio. Intérpretes, biógrafos, romancistas, ouvintes - regra geral, nunca se encontraram e apenas a presença da música, em séculos diferentes, os aproxima, e a eles de nós. Mas qual música, qual linguagem, beleza, angústia e desespero, se ela é a pesquisa para o intérprete, pretexto para o guerreiro, última companhia para aqueles que vão morrer?
«Os apartamentos parecem maiores, agora. Os cravos, a espineta, o alaúde já não estão connosco, nem os violinos e as violas da gamba: o meu falecido esposo ofereceu três instrumentos de tecla a Johann Christian, que os levou; quanto aos restantes instrumentos, foram partilhados pelos irmãos, logo depois de se lavrar o inventário. Um dia vieram dois homens buscar a espineta, e na parede onde ela esteve encostada tantos anos ficou uma sombra mais clara, por o sol nunca bater ali, e um risco de tinta vermelha, raspada na parede. Sigo o risco vermelho com os dedos, esforço-me por me lembrar do som.»