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O Bom Governo, de Ernesto Rodrigues é a derradeira distopia que colocará em causa todos os valores da organização de uma sociedade.
Um governo de cem ministros trabalha de noite e levanta-se às vinte horas, para ouvir o primeiro-ministro no telejornal, que os cidadãos não veem. Cada gabinete tem cem funcionários, mas nenhum pode ser mais alto do que o seu ministro. São titulares dos Negócios Estranhos, da Propaganda, do Betão, da Apneia, dos Equídeos, das Boas Intenções… -, enquanto vendem a província ao estrangeiro.
Sobressai o da Alta Cultura ou do Verniz, octogésimo no elenco: compensa a humilhação do lugar com pentear-se e vestir vincadamente e, em cada inauguração, levar a tiracolo uma assistente, mais nova do que a anterior, até parecerem bisnetas.
Após 50 anos de sono e ignorância, ele será primeiro-ministro, ajudado pelo narrador, que, no incumprimento de promessas, se afasta, antes de chefiar um executivo sóbrio, visando o melhor governo, segundo Goethe: «O que nos ensina a governar-nos a nós próprios.»