Sê o primeiro a adicionar este livro aos favoritos!
Assírio & Alvim, 1985
Tradução de Aníbal Fernandes
“Toda a língua tem destas coisas, mesmo a inglesa. Por isso um alquimista lá da ilha – alquimista que andava aos sais – misturou o ácido e a base, precipitou uma coisa macia e branca que assentava em flocos no fundo da proveta, e daí nasceu a tentação de um nome acasalado de ar e terra, sublime, e daí aconteceu que um sal, sossegado em português com a designação insípida e química de “nitrato de prata”, soube fabricar em inglês um nimbo, soprar um sopro ao mesmo tempo gelado e quente, que obrigava esse alquimista a baptizá-lo: de ‘lunar caustic’.
(Neste passo o tradutor hesita, com a bic no ar.)
Pois nem só nitrato nem prata quis o autor perverso que lá desencantou e soube trazer ao de cimo e vingá-lo gloriosamente de uma injusta subalternidade. Se ‘lunar caustic’ é nitrato e mancha a pele de negro, diz à letra que é cáustico e lunar, prevê um acto corrosivo e a matéria causticada vai ter assombrações de lua, ter lunáticos; quer dizer que será, por metáfora sublime, o manicómio. Por isto mesmo parece irremediável, já, esta cedência à tentação impura: – de chamar com inglês o texto que se escreve em português. (...) Vai ficar o inglês para nos dizer ao mesmo tempo tudo, abrir-se de campo e abarcar o nitrato cáustico de uma prata lunar; vai ficar toda a química e o manicómio; vai ficar ‘lunar caustic’.”
Conforme as fotografias, o interior em bom estado, sem sinais de uso. A capa, sobretudo a lombada, apresenta algum desgaste.