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"O futebol vive da incerteza de cada momento do jogo. Cada pontapé de saída renova a esperança de que algo de inesperado possa acontecer. Também por isso o futebol interessa às forças que ambicionam mais do que a simples aceitação da ordem do mundo. A profissionalização do jogo permitiu que muitos daqueles que à partida se encontravam excluídos – operários, judeus, imigrantes e descendentes de escravos – pudessem jogar. Para eles o futebol não é simplesmente a coisa secundária mais importante do mundo; é a promessa de uma outra vida. Béla Guttmann, imigrante toda a sua vida, tinha o olhar treinado para perceber como o potencial do outsider poderia abalar a ordem estabelecida.
Deste ponto de vista, a história do futebol do século XX pode ser lida, seguindo a incisiva formulação de Galeano, como «uma viagem da ousadia ao medo». Béla Guttmann fez a viagem em sentido inverso. A singular vitória da equipa judaica do Hakoah no Campeonato Austríaco, o Wunderteam húngaro dos anos cinquenta, o arrebatador Brasil de 1958 e as duas triunfantes finais do Benfica na Taça dos Campeões Europeus de 1961 e 1962 são indissociáveis do nome de Béla Guttmann."