O Médico dos Juncos

UM MÉDICO NOS JUNCOS KONSALIK Título original: DER DSCHUNKENDOKTOR Foto da capa: o THE IMAGE BANK, Portugal EDWARD BOWER Copyright o 1983 by Autor e AUA, Munique - Breitbrunn o 1983 by Wilhelm Heyne Verlag GmbH & Co. KG, Munique Impressão e acabamento para Círculo de Leitores por Printer Portuguesa em Junho de 1996 Número de edição: 3787 Depósito legal número 98 650/96 ISBN 972-42-1332-3 Quando ela entrou no vestíbulo do Restaurante Juno Revolving e olhou em redor com um ar interessado, passou tão despercebida quanto todos os outros clientes que haviam subido de elevador ao vigésimo sexto andar, o ponto de encontro de paredes de vidro mais famoso de Kowloon, para comer soberbamente, beber melhor e ao mesmo tempo deliciar-se com a incomparável vista sobre Kowloon, Hong Kong e os Novos Territórios - sobre milhões de correntes de luzes, superfícies de água cintilantes, milhares de juncos e sampanas, arranha-céus e casebres miseráveis, sobre largas avenidas e emaranhados de estreitas ruelas, parques e falésias, sobre um mar colorido de reclamos luminosos. . . e a vasta escuridão que se estendia até à fronteira com a China vermelha. Era um quadro de cortar a respiração que se via daqui, do restaurante no arranha-céus da Nathan Road, número 65?; este quadro ficava na lembrança de qualquer um até ao fim da vida. Uma vez em cada sessenta minutos, o palácio de vidro no telhado rodava à volta do seu eixo e, enquanto nos deleitávamos com um lavagante fresco flamejado a uísque, guarnecido com caviar. ou com um faisão requintadamente recheado com molho de Bordeaux e uvas, aos nossos pés estendia-se uma das cidades mais maravilhosas que existiam à face da Terra. uma cidade de hoje e de amanhã e ao mesmo tempo com milhares de anos, permanecendo sempre misteriosa, apesar de toda a sua abertura à modernidade: Hong Kong. Uma cidade que, com todas as suas facetas, se é incapaz de abranger, de compreender. Uma cidade que reflecte o milagre da existência humana: como é possível que se possa viver de tantas maneiras, de modos tão diferentes, tão inconcebíveis! A jovem mulher foi recebida pelos empregados da recepção, deixou que lhe despissem o casaco de noite bordado a fios dourados, olhou-se rapidamente ao espelho e arranjou com três movimentos de mão o cabelo preto carregado quase até aos ombros. Era uma daquelas lindíssimas mestiças chinesas, em que os traços asiáticos predominavam sobre os traços europeus - mais alta que as chinesas comuns, elegante, mas com o corpo moldado daquelas formas suaves e perfeitas que provocam nos homens as fantasias mais excitantes. Os olhos amendoados no rosto magro eram tão pretos