Emoção trágica e impessoalidade na poesia moderna

Obra esgotada no mercado.

Largamente utilizada pela crítica literária, em referência a uma das posturas centrais do Modernismo, a expressão «impessoalidade poética nem sempre tem conhecido uma aplicação adequada ao seu verdadeiro significado. Trata-se, entes de mais, de um estilo de escrita usado para exprimir sentimentos sem os sentimentalizar. Daqui não resultará uma menor intensidade emocional ou uma maior frieza expressiva. Ao ser impessoal o poeta demonstra possuir uma personalidade mais vasta e ampla que, por implicar a anulação da individualidade e o corte com uma existência meramente pessoal, ligando-se directamente no sentido do trágico.
Um estudo deste tipo teria necessariamente de partir da abordagem de dois autores, cuja produção teórica e poética sempre procurou desenvolver o pressuposto básico de que a emoção na arte é impessoal. Fernando Pessoa e T. S. Eliot são aqui confrontados quer entre si, quer com matérias e autores que com eles directamente se relacionam, alargando, assim, o campo de justificações que defendem a ideia de que uma «emoção impessoal é essencialmente uma «emoção trágica.
À adopção deste atitude impessoal da criação poética, subjaz uma consciência demasiado profunda do contraste entre o desejo essencial do indivíduo e aquilo que a realidade lhe concede alcançar. Neste sentido, ao ser impessoal, o poeta consegue transcender a sua condição de condenado, pois cria uma personagem que vive, em vez dele próprio, os tormentos que são seus, encontrando na arte a vitória à sua derrota na vida. Só vivendo esteticamente o sofrimento, se aprende a volúpia presente em todos os suplícios.