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Todas as sociedades conheceram crises de valor, pela simples razão de que uma sociedade evolui, porque novos problemas surgem e as mentalidades mudam. Assim nunca podemos voltar aos valores de outrora. Vamos dizer crise de valores porque os valores de hoje não são mais os de ontem. Tomemos o exemplo de um valor muito marcante, a poupança. Hoje já não tem a importância capital como o teve nas sociedades rurais agrícolas. Hoje, com a segurança social, os seguros, o tipo de capitalismo que vivemos, a poupança perdeu o seu sentido. É um valor que soçobra. Ora isto não quer dizer que outros valores não tenham surgido. «Crise de valores» seria, assim, uma expressão excessiva, como se o conjunto do edifício dos valores se desmoronasse e nos encontrássemos perante um monte de ruínas. Existem outros valores que surgem. Sou sensível ao valor da solidariedade [...]. Existem, também, valores de relação afectiva, entre o homem e a mulher, que não existiam e que não podiam existir na sociedade agrícola de outrora. É um valor que tem a sua força e a sua fraqueza mas, no entanto, é um valor positivo.[...] A ideia de A Anarquia dos Valores é a ideia de que os valores não respondem a um princípio único, que são contraditórios. Existe uma anarquia de valores dentro da qual nos temos de reencontrar e dar-lhe um pouco de ordem. É a liberdade, claro está, que nos pode ajudar, apoiando--se na fé religiosa porque estamos perante contradições. É necessário acolher os estrangeiros e, ao mesmo tempo, conseguir manter a coesão social e nacional. Nota-se, efectivamente, aqui uma contradição. A grande tarefa é a reestruturação pessoal das liberdades. A meu ver é claro que uma perspectiva religiosa, uma fé, permite encontrar referências que evitarão derivar para uma espécie de incoerência.»
Sinais de uso na capa. Com assinatura, pontos amarelos no exterior das páginas e sublinhados/anotações a lápis e canetilha.