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O tema incontornável nesta retrospetiva é a pandemia de Covid-19, que aliás acaba por ser transversal a muitos outros aspetos também relevantes da conjuntura social e política nacional e internacional. Num ano tão difícil quanto este que atravessámos, tornou-se ainda mais importante a presença do humor nas nossas vidas, sendo por vezes o elemento catalisador que nos ajudou a renovar energias e a enfrentar tantas circunstâncias dramáticas que preencheram o nosso dia-a-dia.
[Alberto Mesquita]
Nos últimos tempos, os cartoonistas tornaram-se alvos habituais de reacções fortes. Reacções fortes a ideias fortes são compreensíveis e até desejáveis, mas os cartoons costumavam ser vistos, antes de mais, como um efeito forte. Os cartoonistas têm ideias, claro, mas também têm um método, que é o exagero. E esse método passou a ser tratado como uma ideia, quer dizer, como uma afronta.
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Esta antologia dos melhores cartoons portugueses de 2020 mostra-nos um planeta doente. Trata-se, em primeiro lugar, da pandemia e dos medos que desencadeou. O coronavírus, com a sua característica (e microscópica) configuração, faz-se bem visível nestas páginas: é uma bola, um novelo, um escudo, um sol, uma forma que tomou conta da nossa existência e da nossa imaginação visual. Mas depois vem o «exagero» de apresentar a Covid como um de vários vírus em voga, entre os quais o neonacionalismo, o fundamentalismo, a democracia iliberal ou os líderes mundiais com penteados estrambólicos, incluindo aquele que achava que isto ia lá com lixívia. É que enquanto muita gente exige cartoons sem exageros, o mundo anda tão exagerado que até o exagero parece um eufemismo.