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Recebemos dos nossos progenitores uma herança biológica e outra cultural.
A primeira constitui-se na transmissão de características codificadas nos genes, enquanto a última terá por base a transferência cumulativa de hábitos, educação e cultura, uma série de experiências e conhecimentos adquiridos por imitação e instrução.
Se hoje é fácil aceitar que as características fisiológicas e estruturais dos seres vivos sejam induzidas por genes, não é ainda tão linear a compreensão de que estes possam influenciar também o comportamento, o perfil psicológico, as emoções, os sentimentos e até as convicções morais e éticas. Os genes são entidades naturais que aparentam poderes sobrenaturais, assemelhando-se umas vezes a deuses e outras a demónios. Eles dão-nos a vida, influenciam o pensamento, a reprodução e as características da prole. Condenam-nos também ao envelhecimento e à morte.
No cérebro humano estão expressos milhares de genes. São eles que se responsabilizam, de facto, pelos alicerces orgânicos do nosso comportamento e permitem as estreitas relações que ele mantém com o sistema nervoso, as emoções e o organismo em geral. Nesta breve viagem às origens biológicas do comportamento humano, visitamos os diversos factores de expressão dos genes e o modo como estes, ao mesmo tempo, se moldam e influenciam o meio ambiente, numa dicotomia entre o que está na natureza humana e aquilo que se adquire com a criação.
Iremos ao encontro de uma área do conhecimento com interesse científico recente, a genética do comportamento, debruçando-nos sobre toda a variação que é introduzida no comportamento humano por genes únicos, sistemas de genes múltiplos e mutações genéticas, bem como através da educação, da cultura, de todos aqueles ambientes que são experimentados, antes e depois do nascimento, muito em particular o que cada um de nós, por razões genéticas, apreende e vive em exclusivo.