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«A poesia de Maria Helena Ventura alicerça-se numa atenção minuciosa à experiência vivida, intimamente articulada quer com a observação do mundo natural quer com os jogos da memória (cf. poema Lágrima).
Contudo, este entrelaçado triádico não se fundamenta a si próprio, antes desemboca num cismar assumidamente metafísico, onde o Silêncio irrompe como fundamento de uma autenticidade possível: "mas nada é definitivo/ nem um adeus/ nem a rigidez da pedra/ só o branco imperturbável do silêncio" (in poema Agora); é, por conseguinte, na sacralidade desse silêncio, incompatível com eternidades ficcionais, que a poeta domestica a luz e apascenta as palavras. A limpidez da poesia de Maria Helena Ventura, sem descurar o cuidado com o mundo social, insere-se numa tradição que, proveniente dos trágicos e dos poetas gregos, nunca deixou de se questionar, não só sobre o aqui, mas também - e lembrando Kant - sobre o que nos é dado esperar.»
Victor Oliveira Mateus