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João Carlos é apenas metade de uma personagem complexa, mestre em muitas artes e ofícios. Assinando com os apelidos Celestino Gomes, é poeta, prosador e ensaísta, e também divulgador científico, na rádio, televisão e jornais, associado ao seu labor de médico higienista.
Assinando João Carlos, pinta, ilustra e entalha a madeira. Eternamente enamorado por Ílhavo, onde nasce em 1899, conta e pinta a gesta heroica da comunidade piscatória e grafa a sua pitoresca linguagem. O traço sinuoso e preciso, a ausência de perspetiva e a ornamentação onírica e orientalizante que encontramos na sua produção gráfica, são todo um programa de arte e vida do artista prolífico que espalha tinta-da-china em folclóricos quadros para revistas e jornais, glosa as peripécias da história da Medicina em propaganda de laboratórios farmacêuticos e devota-se à dramática biografia de Jesus em livros e fascículos colecionáveis.
Espiritual e humanista, fascinado pela gravura do japonês Hokusai, os Primitivos de Quatrocentos, as artes bizantina e oriental, e pelos XX Dessins do pintor Amadeo de Sousa Cardoso, João Carlos constrói, no seu horror ao vazio, uma emocionante epopeia gráfica, à margem do modernismo oficial e estilizado da Política do Espírito do Estado Novo.
Falece em Lisboa em 1960.