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Neste livro não há amanhãs que cantam, nem sequer um requiem por um Portugal moribundo, nem tampouco qualquer glorificação da luta do inimigo pela sua emancipação. O inimigo é invisível, mas existe no coração do mato e é dessa fantasmagoria que emerge o horror. A selva esconde um perigo de morte, causa de um vigilante "horror que adivinha o inquietante mais do que vê, mas que por isso mesmo o homem é apanhado por ele nas suas garras poderosas".
A citação de Ernst Jünger é transplantada de O Coração Aventuroso, mas o horror que se vive na Guerra da Guiné está mais próximo da fronteira de temor que ecoa no Coração das Trevas de Joseph Conrad. Em Lugar de Massacre, rio acima até à Ponta do Inglês, sítio não cartografado e de indecifrável valor estratégico-militar, a guarnição, ao atingir o seu inútil destino, salta da lancha de patrulha "atascando-se até ao joelho num solo traiçoeiro" para ser emboscada pela "sombria e pensativa floresta", de que nos fala Conrad, e de cujo coração aparecem seres humanos "como se saíssem da terra". O horror telúrico é o mesmo que povoa o Coração das Trevas, sendo que temos Pierre Avince no lugar de Marlow e o Rio Geba é o equivalente do Rio Congo.
Em ambos, os homens à deriva estão à mercê da "grande muralha de vegetação - exuberante, emaranhado de troncos, ramos, folhas, rebentos e grinaldas - que lembra uma invasão violenta de silenciosa vida, uma alta onda vegetal, prestes a desabar na enseada e a varrer os homens insignificantes", citando Conrad.
[João Nuno Almeida e Sousa, em "À Deriva no Império Morto" texto de abertura de Lugar de Massacre]
Com assinatura.