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É difícil prever o sentimento de um antropólogo europeu no momento em que está a fazer um tratamento de protecção com curandeiros moçambicanos e uma ovelha é degolada às suas costas. Também pode não ser imediatamente compreensível o que o colocou nessa situação — que peripécias, que visões do mundo, que ética e que relação com o próximo. Numa perspectiva pessoal e intimista, Paulo Granjo combina literatura e conhecimento científico para partilhar uma experiência única, transformadora e que nos leva a interrogar: é possível praticar com sinceridade rituais que falam e pensam em espíritos, conciliando isso com uma visão do mundo «moderna» e materialista? E porque não haveria de ser?
Uma viagem de descoberta que se lê com prazer e assombro. «Um chato como eu, de quem ninguém conhecia a filiação, com as teses já feitas e que os procurara para perceber porque é que os operários da Mozal tinham amuletos e cicatrizes de vacinas protectoras e, palavra puxa palavra, acabara a ter longas conversas acerca das suas explicações para as coisas más acontecerem, ou sobre o que faziam para desocultar e domar os incertos infortúnios que nos rodeiam, isso era insólito e exótico. Insólita, também, a aparente temeridade de querer ver, tocar nas coisas, ajudar nas acções que fazem parte da sua arte. Eu era uma carta fora do baralho. Ora numa coisa os bons curandeiros são parecidos com os bons antropólogos: para eles, aquilo que é insólito tem de ter uma explicação. E se tem uma explicação, é preciso procurá-la.»