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O Fogo-Fátuo imagina Jacques Rigaut nos seus últimos dias de vida, através de sete encontros com pessoas das suas relações que lhe fazem sentir, de diferentes formas, uma eficiente cumplicidade com o mundo, nenhuma com lugar possível entre as dúvidas e as certezas do seu percurso de homem belo mas pouco hábil no amor, de escritor falhado, de um não resistente às seduções da heroína, de um ser ferido pela incapacidade de amar e se fazer amar.
O Alain de La Rochelle atravessa as suas páginas em luta contra alguns demónios; os de uma medíocre eficiência sexual, cada vez menos desculpada perante o decréscimo dos seus atributos físicos, o do medo de um envelhecimento que lhe recuse a protecção de mulheres ricas, única forma que conhece de suportar o mundo e a vida. E por causa de tudo isto ouve-se, desde a primeira página, o estampido de um tiro final.
Será inútil querer encontrar um qualquer conteúdo político em O Fogo-Fátuo. O seu Rigaut, aqui chamado Alain, brilha e apaga-se como a chama dos pântanos na noite de Paris povoada por seres que ele não consegue prender nem chamar à sua necessidade de afecto. A sua maior contradição - de um pequeno-burguês com supremas exigências de elegância, e do dinheiro que essa elegância necessita para se fazer mostrar numa sociedade que ele, por outro lado, despreza - fá-lo arrastar-se por uma solidão armada com espinhos interiores. Ela não lhe consente encontrar razões para viver, e apenas lhe denuncia a mentira daqueles que o rodeiam. Alain sente como única solução o suicídio, recurso dos homens com a mola roída pela ferrugem, a ferrugem do quotidiano. Eles nasceram para actuar mas retardaram a acção, e a acção volta por ricochete a atingi-los. O suicídio é um acto, o acto dos que não conseguiram levar outros até ao fim.