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Joaquim de Carvalho (1892-1958), figura ímpar da Universidade portuguesa e personalidade das mais ricas e originais da nossa cultura, foi historiador da Filosofia, pensador e professor, investigador e crítico. Deixou em todas as disciplinas que cultivou a marca da sua inteligência poderosa e do seu estilo inimitável. Pode documentar-se na sua vasta obra um grande respeito pela historicidade do pensamento, em cuja expressão está consignado o sinete específico da humanitas.
Como o historiador das ideias, recusou-se sempre a comprazer-se no hedonismo psitacista de um jogo dialético sem dimensão humana. Alguns plumitivos superficiais já lhe negaram a dignidade de filósofo, como se ser filósofo significasse tão-só ser criador de sistemas. É verdade que não foi filósofo se sê-lo quer dizer ensimesmar-se em jogos conceptuais de uma vazia escolástica. Mas quem, com fundamento sério, ousará negar a historicidade do pensamento original?
Investigador de ideias, ele as questionou e inquiriu em todas as épocas de pensar histórico, desde a Idade Média e o Renascimento até ao século XX: na metafísica medieval das summae, na liberdade radiosa do Humanismo, no panlogismo de Giordano Bruno a Espinosa, na história da ciência moderna de Galileu a Newton, na irradiante claridade do racionalismo cartesiano, no pensar científico das Luzes, no idealismo germânico, na especulação kantiana e hegeliana, nas correntes fenomenológicas do pensamento contemporâneo.
Joaquim de Carvalho apostou-se também, contudo, em estudar a especificidade de uma filosofia, se não essencialmente portuguesa, pelo menos enraizada em Portugal. Daí o seu interesse por Pedro Hispano, Suárez, Margalho, Pedro da Fonseca, Francisco Sanches, Uriel da Costa, Ribeiro Sanches, Antero de Quental e Teixeira de Pascoais. Desde a sua juventude concebera o projeto de erguer uma História da Filosofia em Portugal: as suas duas primeiras monografias, uma sobre António de Gouveia e o Aristotelismo da Renascença (Coimbra, 1916) e a outra sobre Leão Hebreu Filósofo (Coimbra, 1918) são dois trabalhos que se integram nesse vasto projeto que não pôde – por ter sido surpreendido pela morte em 1958 – levar a bom termo numa obra coerente.
(Da introdução de José V. de Pina Martins)