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Olhar para trás, para os anos mais importantes das nossas vidas - aqueles que nos tornaram o que hoje somos - nem sempre se revela tarefa fácil; mas o narrador deste romance terno e deslumbrante tem, desde pequeno, um companheiro inseparável que, até certo ponto, facilita as coisas: um caderno de papel pardo com linhas, comprado, ainda nos anos 1960, em Moçâmedes, no qual foi registando - com palavras, desenhos, fios de cabelo, pétalas, sangue, sémen - os episódios que marcaram decisivamente a sua história. Da aprendizagem dos números com a fita métrica da São modista à consciência dos traumas da Guerra Colonial, da iniciação sexual com uma rapariga indiferente a tudo menos aos limões ao preconceito impiedoso dos meios pequenos, da paixão nunca consumada por uma actriz de cinema ao poder cego da censura, da descoberta salvífica dos livros à morte de uma paisagem amigável, as folhas desse caderno abrem-se agora generosamente para nós, e as suas palavras guiar-nos-ão pelos fios de uma narrativa que, sendo a de um só homem, é também a de um Portugal que já desapareceu.
Com uma simplicidade invejável e, ao mesmo tempo, parecendo ter uma biblioteca dentro, As Palavras Que Me Deverão Guiar Um Dia, finalista do Prémio LeYa em 2013, é um romance de formação tão enternecedor como Cinema Paraíso, só que com livros em vez de filmes.
Pontos amarelos no exterior das páginas.