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Pode dizer-se que DuBose Heyward (1885-1940) se sentiu depois de Porgy realizado. Porque tinha feito a conquista de um lugar entre os que sobressaíam nesse ano nas letras norte-americanas (até Langston Hughes, um escritor negro— o que era relevante neste caso—fazia notar que os seus «olhos "brancos" davam vida às maravilhosas qualidades poéticas dos habitantes da Catfish Row»); porque a sua inaptidão para negócios encontrava num amigo qualidades que a si próprio faltavam, ideais para o êxito da companhia de seguros que o tinha como sócio; porque vivia horas de criador protegidas pela sua esposa Dorothy, sua incondicional apoiante e co-autora em duas obras teatrais inspiradas pelos seus romances.
O êxito de Porgy ficou em grande parte a dever-se a algumas singularidades da sua história e do seu cenário; ao exotismo «caseiro» de bairro negro; aos momentos—de um ritual fúnebre, de um cortejo festivo, de uma floresta, de uma tempestade—onde o autor se exibe com grande eficácia descritiva; a um par amoroso sem graças físicas que se sobreponham à desgraça de membros mal conformados e a uma desfiguradora cicatriz na face; à indiferença pela boa regra do assassino castigado; à recusa em não instalar Porgy e Bess entre os apaixonados trágicos que alimentam a lista dos «imortais do amor».
Porgy e Bess pertencem a um grupo humano humilhado na sua segregação de bairro negro, conformado com a superioridade social do homem branco, e que se defende destas fatalidades com a embriaguez do canto, com uma religiosidade cristã de mãos dadas com a magia, com uma languidez alimentada por calor e sol. Todo o livro vive sob o peso do clima temperamental de Charleston, que condiciona os sentimentos e os actos dos habitantes da Catfish Row. Cena a cena iremos saber se as personagens deste conflito são batidas por calor, chuva ou vento; e a última frase do livro, para um Porgy envelhecido e vencido, invoca a força benfazeja do Sul, a que inunda o seu desgosto com «a ironia de um sol matinal».
A.F.