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«Enquanto Mariana se arranjava, o rapaz, sentado na cama muito estreita, espreitava-a pelas frestas do biombo. Via-a lavar-se. Notou-lhe a palidez, o desmazelo, o cabelo desfrisado, um buraco no calcanhar de uma meia, a deselegância da atitude. Cansou-se; olhou o seu próprio desalinho. A mesa de cabeceira remexida também. Abafada em organdi, a lâmpada eléctrica esverdinhava os móveis. Empurrou um sapato com desdém. Assoou-se. Tornou a espreitar. Teve um sorriso sardónico.»
Exuberância, casticismo, toada lírica ou mordacidade no dizer, harmonia ou aparente descaso na composição, deslumbramento das coisas e dos seres, com simultânea e exasperada denúncia dos nossos males, entrega total ao que se escreve, para o melhor e para o pior, e, por que não?, uma visão melancolizada, às vezes ácida, outras romântica, do tecido de que são urdidos os nossos liames vivenciais.
Tudo isso está na obra de Urbano Tavares Rodrigues, com fulgores, sombras, traumas e júbilos, que, literariamente, atingem uma alta craveira, uma finura de tratamento por raros igualada.
Sinais de uso na capa. Com assinatura e amarelados no interior e exterior das páginas.