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A acção de Psiché desenvolve-se entre as últimas décadas do século XIX e os anos cinquenta da nossa época. É a história de um homem de «carne e osso» que, pertencendo à então vilipendiada classe dos comediantes, sofreu da instabilidade, que ainda hoje é, de certo modo, apanágio da profissão, e da brutal concorrência feita aos espectáculos ligeiros pelo recém-aparecido e poderoso cinema.
É também a história de uma mulher enérgica que, sempre na sombra do marido, foi o nó vital, o deus ex-machina da arte dele. Dias de glória, alegria, sofrimento, até à decadência final, à miséria se não fora o acolhimento carinhoso de familiares... E será que esta sina foi já definitivamente banida dos horizontes dos nossos artistas?... Vigorosamente tratada a personalidade dos intervenientes, que, tendo tido existência real, se sentem poeticamente estilizados. Uma vertiginosa descida ao Tártaro, com o tempo e o espaço inicialmente desgrenhados e desorientados. Aqui e ali um recorte bizarro: D. Maria Bragança e o seu incrível almoço. Mulher de «avant garde» ou uma George Sand tardia?... O senhor Aristeu, o noivo indeciso... E a figura trágica de Raquel, marcada desde o início pela morte...
Como pano de fundo, paisagem e fragmentos de história do Brasil e de Portugal, em pequenos apontamentos ou em descrições fortes e rigorosas: a emoção da chegada ao Rio dos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, os massacres sangrentos de Garanhuns, o espectro da gripe espanhola com o seu «chá da meia-noite»...
Tudo isto nos conta o autor num português fluente e clássico a que já nos habituou.