Sobre um monte de Lentilhas

Meados do século XIX. Caytano parte da sua aldeia, algures nas Astúrias, rumo a Cuba em companhia de sua mulher María. Desembarca em Havana, onde vai tentar melhor sorte. E a partir desse momento começa a saga dos Caytanos, que acompanharemos durante várias gerações. Mas isso acontecerá de uma forma bastante peculiar. A narrativa na terceira pessoa, o cuidado e o esmero postos numa linguagem e num estilo propositadamente elaborados e perfeitamente adequados à época em que se vai desenrolando a acção, a ironia contundente que perpassa estas páginas, colocam-nos perante um texto em que, a par da história da «dinastia» dos Caytanos (de olhos de um azul único, depois conhecido pelo característico azul-caytano), outras questões assumem uma dimensão não menos importante: a emigração, a luta de um povo pela sua independência, a recusa de uma fusão étnica, a escravatura, as grandes e pequenas guerras — e também as pequenas guerras familiares. Acompanhamos com o autor, durante cerca de cem anos, uma família singular, que apesar dos esforços para conservar um hermetismo férreo perante o que a rodeia não consegue, contudo, escapar ao clima de profundas transformações que no fim da década de 50 do século XX se vivem no país que o fundador da «dinastia» havia escolhido como terra da promissão.