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Liliana Segre é uma das últimas testemunhas da Shoah ainda viva e ainda com a coragem de testemunhar, cuja voz é capaz de guiar-nos através do universo negro das emoções e do medo no seu limite, que os livros de história dificilmente nos transmitem.
As palavras com que Liliana Segre tece a sua cansativa viagem de marcha-atrás foram conservadas na sua sobriedade tão directa. É uma narrativa na primeira pessoa, voluntariamente chã, através da deportação, do difícil regresso à vida e as razões mais íntimas que a levaram a tornar-se testemunha pública - uma pequena porta de acesso a um evento histórico demasiado grande e inesgotável.
Nas noites de céu limpo, escolhi uma estrelinha lá no alto e identifiquei-me com ela. Eu não estava em Auschwitz: tinha-me fundido com aquela estrelinha e pensava (de modo infantil, como eu era): "Eu sou aquela estrelinha. Enquanto a estrelinha brilhar no céu, eu não morrerei, e enquanto me mantiver viva, a estrelinha continuará a brilhar."
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O meu número 75 190 não se apaga: está dentro de mim. Eu sou o número 75 190.
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Milhares, melhor, milhões de vezes já perguntei a mim mesma porque sobrevivi à Shoah. Mas não há resposta. Poderia dizer que Deus pôs a sua mão na minha cabeça; mas porquê a mim, e não à companheira que dormia ao meu lado? Não é esta a explicação. Só posso pensar num facto: cada um de nós tem um destino escrito algures… Liliana Segre