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Nesta obra trata-se de situar a técnica e naturalmente o seu último avatar, a tecnologia - no mundo que é o nosso, de perseguir os seus aspectos contrastantes, de denunciar outros, de propor a sua crítica e teoria. Technopolís ou a relação entre dois protagonistas, tekhnê e polís. Casamento ou divórcio, amor ou ódio, ligação passageira ou profunda conivência? E isso sob que modo, segundo que ritos? Acreditámos poder mostrar aqui o entrelaçamento do político e do técnico. Ora, este entrelaçamento está nos antípodas da ideia comum de uma separação entre os dois domínios, separação que corrobora quer a neutralidade de um (a técnica), quer a nobreza e a preeminência do outro (a política). Ora, parece que as coisas devem ser colocadas de outra forma, renovar os dados, procurar uma outra combinação dos elementos em presença, se não se quiser repisar incessantemente os mesmos argumentos e as mesmas falsas classificações. Colocar as coisas de outra forma? Sim, porque tendo em conta os dispositivos actuais, constata-se não só uma alteração nas relações entre técnica e política, mas bastante mais: uma verdadeira inversão. Aliada da política por um casamento morganático, a técnica tornou-se serva-dominadora, esta é aqui a nossa tese e é nisso que consiste a inversão. Assim, já não se trata de considerar a técnica ou a tecnologia isoladas, neutras, fazendo simplesmente o que têm a fazer: inovar, experimentar, fornecer-nos comodidades de vida, em suma, encarnar o progresso.
Contudo, a constatação desta inversão de valores e de prioridades não seria suficiente, se não esclarecesse de uma forma particular, quer a técnica, quer a política. O que se descobre, no decorrer da análise, é a surpreendente proximidade entre os traços característicos da actividade técnica e os que compõem o essencial do político. Dizer isto não é, contudo, unificar a tal ponto os dois domínios, que estes não apresentariam senão uma superfície lisa, una, e caminhariam lado a lado rumo ao seu destino... É antes seguir de perto os nós de ligação, as interrupções, os conflitos, as tomadas de decisão, as irracionalidades, toda uma narrativa com múltiplos ressaltos. Com efeito, no decurso destas análises, muitas vezes resultantes de inquéritos conduzidos junto dos actores de grandes empresas tecnológicas, uma outra descoberta é posta a nu, pouco a pouco, constituindo a segunda tese deste livro. É que, já unidas por características semelhantes, política e técnica são ambas habitadas pela ficção.
Com assinatura e pontos amarelos no interior e exterior de algumas páginas.