Sê o primeiro a adicionar este livro aos favoritos!
"A carta enviada a 17 de Dezembro de 2003 a Álvaro Cunhal estendia-se por três páginas. Nelas, estava o pedido para uma entrevista e uma sugestão de trabalho que permitisse efectuar uma longa viagem pela sua vida pessoal, politica e intelectual, a ser publicada por ocasião dos trinta anos da Revolução do 25 de Abril de 1974. A espera por uma resposta virou o ano e continuou por mais alguns meses. Nesse espaço de tempo, as novidades sobre o seu estado de saúde confirmavam que a espera iria ser longa ou até mesmo ultrapassada por um final várias vezes anunciado.
Apesar de a resposta não chegar, o trabalho jornalístico tinha data marcada e havia que encontrar outra abordagem.
Diferente, porque o protagonista Cunhal tem sido "fotografado" por vários ângulos ao longo das muitas décadas da sua vida. E o roteiro para essa longa viagem com Álvaro Cunhal recaiu sobre um dos lados menos conhecidos, o da criação literária, sob o pseudónimo Manuel Tiago.
No bloco em que as anotações iam ser feitas, escreveu-se na primeira folha "Em busca de Álvaro Cunhal na prosa de Manuel Tiago", como orientação cardial para o artigo. O encontro com os personagens que tornam real a ficção de Manuel Tiago sugeria que o título final fosse "Os homens da bicicleta" mas, ao fim de vários meses de investigação, só sobrava "Uma Longa Viagem com Álvaro Cunhal".
Uma primeira versão desta reportagem foi publicada no Diário de Notícias. Mas a recolha de depoimentos sobre Manuel Tiago só terminou no dia 9 de Junho de 2005, a quinta - feira reservada para a conversa com Jaime Serra.< br> Sentados na sala E do rés-do-chão da sede do PCP, ele desabafou sobre o quanto detestava aquele compartimento: "Não tem janelas, parece uma cela do Aljube". Com esta conversa, o trabalho original passou a ter o dobro do tamanho com que fora publicado no suplemento DNa - a que Pedro Rolo Duarte dera toda a edição - mas o desejo de obter a entrevista solicitada ao ex-secretário-geral mantinha-se.
Com o amanhecer da segunda-feira seguinte, a notícia da morte de Álvaro Cunhal refez a realidade… Optou-se por manter o tempo presente em todo o texto porque fora escrito com Manuel Tiago vivo."