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A figura do duplo está mais uma vez presente nas personagens José Rui e Genaro. O romance Crime e Castigo, de Dostoievski, actua como a interpretação dos sonhos. Como o sonho, ele desempenha uma função anti-cultural, protegendo o desejo de dormir e assim renunciando a qualquer problema cultural.
O tema da perversão (ingenuamente tantas vezes atribuído à escritora) e que constitui como tal um resto de moralismo burguês, está presente no convívio dos dois amigos e em todo o ambiente da sua educação.
A libido tem como reserva da sua actividade útil todas as infracções da moral vulgar. Inclusivamente o crime, tal como é cometido pelo estudante Raskolnikov. Como homem de cultura, ele tem de renunciar ao exercício do mal - o que, num rápido acesso da sua natureza arcaica, acaba por criar o conflito. Assassina a velha usurária para que a culpa lhe facilite o excitante necessário para se redimir.
Tese dolorosa e empolgante, a do homem a quem o factor da culpa é necessário para provar a sua humanidade.
O ser humano não pode viver a cultura senão com o sacrifício do seu destino arcaico. Esta é a experiência dos dois amigos que desenvolvem uma existência de acções da sociedade em que o proibido é, ao mesmo tempo, atraente e temível.