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Terceiro livro de Ruy Belo, «Boca Bilingue» foi publicado pela primeira vez em 1966. Nas palavras de Gastão Cruz, no prefácio a esta edição «Ao invocar, no poema de abertura do seu livro, a poesia como "palavra impossível", Ruy Belo passa-lhe o único atestado que pode certificá-la como poesia, um estremecimento da linguagem, ou, talvez mais precisamente, o estremecimento das mãos do poeta, recebendo, em tempos inaugurais, as folhas dactilografadas do livro, das mãos de quem, antes da publicação, ele quisera que as lesse.»
[…]
Simples questão de tempo és e a certas circunstâncias de lugar
circunscreves o corpo. Sentas-te, levantas-te
e o sol bate por vezes nessa fronte aonde o pensamento
— que ao dominar-te deixa que domines — mora
Estás e nunca estás e o vento vem e vergas
e há também a chuva e por vezes molhas-te,
aceitas servidões quotidianas, vais de aqui para ali,
animas-te, esmoreces, há os outros, morres
Mas quando foi? Aonde te doía? Dividias-te
entre o fim do verão e a renda da casa
Que fica dos teus passos dados e perdidos?
Horário de trabalho, uma família, o telefone, a carta,
o riso que resulta de seres vítima de olhares
Que resto dás? Ou porventura deixas algum rasto?
E assim e assado sofro tanto tempo gasto
de «ÁCIDOS E ÓXIDOS»