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A peça "Antes que a Noite Venha" estreou no Teatro da Cornucópia, em 1992, com as actrizes Luísa Cruz, Rita Blanco, Maria João Luís, Márcia Breia, numa encenação de Adriano Luz. Posteriormente, foi traduzida, publicada e representada em França e em Itália.
"A mim, à "autora", cabiam-me as histórias que aqui se contam e que também eram, claro está, parte do desafio que a encomenda trazia. Criariam mais incoincidências ainda: neste bas-fond não se falaria calão e, se podia haver bebedeira, não era do brandy nem da droga dura que a tontura teria de nascer.
O mal acordado da noite, acabada e quase a começar, seria tão literário e tão cru como isto: porque é que Julieta, Antígona, a Castro, Medeia, saídas quase em directo das suas tragédias mais ou menos antigas, não haveriam de passar por aqui, pelo menos com a banalidade que lhes deu a contínua passagem de boca em boca, de cabeça em cabeça, de coração em coração?
Porque é que no kitsh dum toucador barato não se havia de pendurar as cabeleiras das heroínas e os diademas das princesas? Porque é que as gavetas com cheiro a perfume espanhol não haviam de esconder românticos diários de trágicas paixões? Porque é que o amor e a morte de uma mulher sem nome hão-de ser tão diferentes como isso do amor e da morte dos monstros sagrados que a literatura foi reduzindo a frases? Era uma aposta na inverosimilhança total para que uma qualquer verdade nascesse."
Eduarda Dionísio, "Flagrante Delito", in Antes que a Noite Venha